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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

EPIDEMIA DO JOGO TOMA CONTA DO PAÍS



 Considerada doença, dependência leva pessoas até mesmo ao suicídio, diz estudo 

Baralho, loterias, cavalos, bingo, caça-níqueis, bicho. Não importava o jogo e sim apostar. Por causa da dependência, perdeu carros, casa, amigos, marido. Acabou na mão de agiotas. Foram cinco anos de mentiras e terror, vagando de bingo em bingo para "esmolar" cartelas, comida, café.

Período que ela quer esquecer.

Vítima de uma "epidemia" que não aparece nas estatísticas do Ministério da Saúde, L., paulistana de 46 anos, sofre de uma doença que nos próximos anos pode atingir mais de 5,3 milhões de brasileiros, segundo especialistas. Uma enfermidade algumas vezes letal: a dependência do jogo leva 22% das mulheres e 6% dos homens a tentarem o suicídio, segundo dissertação de mestrado da médica Sílvia Sabóia Martins, defendida na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Hoje, o jogo movimenta cerca de R$ 500 milhões por ano no Brasil. Bingos e máquinas caça-níqueis são os que mais crescem em número. Segundo a CPI do Bingo, já existem mais de 250 casas, com centenas de máquinas de videopôquer. Os caça-níqueis - em bares, lanchonetes, padarias - superam os 250 mil.

"Com essa epidemia, o País terá, em pouco tempo, de 2% a 3% de sua população envolvida no jogo", 


Acredita o psiquiatra Hermano Tavares, fundador do Ambulatório do Jogo Patológico (Amjo), do Instituto de Psiquiatria da USP, no Hospital das Clínicas. Segundo ele, as mulheres desenvolvem a compulsão, em média, quatro vezes mais rápido que os homens.

Acompanhando dependentes desde 1997, Tavares concluiu: ganhar dinheiro em jogo é um sonho distante.

"Chega uma fase em que a pessoa vê que está perdendo. Começa a tentar reverter o quadro. Aí aumenta a aposta para recuperar e passa a perder mais."

Uma roda-viva que nunca tem um final feliz. As sucessivas perdas obrigam os dependentes a pedir empréstimos para amigos e parentes.

"O dinheiro obtido volta para o jogo e a pessoa quebra de novo. Acaba indo morar na rua, perde família, amigos. Começa a recorrer a agiotas", relata. "Sem ter como pagar, muitos tentam o suicídio."

Estelionato - Os caça-níqueis estão em todos os pontos do País. A cada mês surge um bingo novo e centenas de máquinas passam a funcionar. "O Brasil foi inundado pelas máquinas eletrônicas programáveis", afirma o promotor de Justiça Rodrigo Canelas Dias. Segundo ele, num primeiro momento elas parecem uma brincadeira inofensiva. "No entanto, escondem estreita ligação com a máfia italiana e espanhola", garante. 


Em seu trabalho sobre a tipificação legal da exploração dos caça-níqueis, Canelas Dias revela que documentos encaminhados ao Ministério Público de São Paulo pela Direção Investigativa Anti-Máfia, da polícia italiana, mostram que o dinheiro, inclusive do narcotráfico, estaria sendo "lavado e reciclado" no Brasil por empresas relacionadas com a importação e a exploração das máquinas de videobingos e de caça-níqueis.

O promotor revela ainda que estudos dos peritos do Instituto de Criminalística de Bragança Paulista verificaram que todas as máquinas de jogo, das mais simples às mais sofisticadas, são dotadas de microchaves (switches), por meio das quais é possível alterar seu comportamento de acordo com a vontade de quem as explora. "Trata-se de jogo viciado, de estelionato coletivo, a ser capitulado como crime contra a economia popular."

A Lei 9.615, de 1998, a chamada Lei Pelé, determinou que não deveria ocorrer a exploração das máquinas eletrônicas programáveis nas salas de bingo. Mas, em São Paulo, muitos estabelecimentos funcionam sem alvará, amparados por liminares. 


Sem fiscalização - O Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) paulista tem 30 inquéritos sobre as atividades dos bingos, mas as apurações estão paralisadas. Com isso as máquinas caça-níqueis funcionam livremente, sem passar por fiscalização da polícia, das prefeituras ou da Justiça.
Com base na denúncia da mulher e da filha de dois entregadores de produtos do Mercado Municipal, a Delegacia de Crimes Eletrônicos, do Deic, apreendeu máquinas em quatro bares da Rua Cantareira. No Estado de São Paulo, bicheiros, comerciantes, ex-policiais e pequenos empresários exploram os caça-níqueis livremente. Já os bingos são controlados por bicheiros, estrangeiros e empresários.

 FILÓSOFO

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